quinta-feira, 15 de maio de 2014

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Os ''analfabetos'' religiosos

Ninguém, na Itália, é obrigado a ter uma religião em particular. Isso, porém, não deveria justificar a grande ignorância nesse campo – no catolicismo, ao menos, seguido pela maioria dos italianos – sob pena de não conhecer a própria história.

A reportagem é de Luigi Sandri, publicada no jornal Trentino, 05-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No entanto, é exatamente isso: tal "desconhecimento" é galopante, como demonstra impiedosamente o Rapporto sull’analfabetismo religioso in Italia [Relatório sobre o analfabetismo religioso na Itália] (Ed. Il Mulino), um livro volumoso, recém-publicado, editado por Alberto Melloni, o secretário da Fundação João XXIII para as Ciências Religiosas, que sabiamente coordenou o trabalho de cerca de 30 juristas, teólogos, historiadores, sociólogos, educadores que, de diversos pontos de vista, chegaram a uma conclusão desanimadora: o analfabetismo religioso reina soberano.
Não adentraremos nos inúmeros dados fornecidos pelo livro, enriquecido também com as acuradas pesquisas demográficas que fotografaram qual é o conhecimento que os italianos têm das Escrituras hebraicas e cristãs, e das noções basilares do cristianismo.
Embora 70% dos italianos tenham a Bíblia em casa, apenas 29% admitem ler uma página de vez em quando, muitos não sabem quem "ditou" os dez mandamentos, e outros confundem Moisés com Jesus.
Naturalmente, é possível viver também ignorando essas coisas, mas para quem não as conhece, falta chave para entender, por exemplo, muitíssimas obras-primas da pintura que têm   como objeto temas bíblicos e acontecimentos ligados às Igrejas.
A "necessidade" de saber sobre o cristianismo – a religião ainda predominante na Itália e que durante séculos marcou a Europa – não significa, necessariamente, ser fiel a uma Igreja: na Itália, ele diz respeito a todos, católicos e não católicos, agnósticos, ateus ou crentes de outras formas.
De fato, sem esse conhecimento, é "impossível" entender o passado deste país. Entendê-lo – que fique claro – para o bem e para o mal, e sempre permanecendo livre para avaliar o passado e o presente, com suas luzes e suas sombras, como tais nos apareçam em ciência e consciência.
Tal saber, hoje, é mais importante do que antigamente: até poucas décadas atrás, na Itália, era possível viver sem nunca encontrar, ou encontrar muito raramente, pessoas de religião diferente da católica. Hoje, no entanto, vivem na Itália 1,7 milhão de cristãos ortodoxos (russos, ucranianos, moldavos e romenos, em particular), um milhão de muçulmanos e ainda milhares de hindus, budistas, sikhs.
Portanto, é normal encontrar essas pessoas: mas, para dialogar com elas, é necessário conhecer – independentemente das próprias convicções pessoais – as linhas mestras do cristianismo que animaram a Itália e ter também alguma noção não simplista das religiões dos nossos hóspedes. Chegou a hora, enfim, de ser cristãos sérios, ateus sérios, agnósticos sérios, crentes sérios.
O analfabetismo era uma chaga antigamente na Itália. Agora é bem raro encontrar uma pessoa que não saiba ler. No entanto, permanece o analfabetismo religioso: também este uma chaga que, não curada, pode ter consequências sociais muito desagradáveis.



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